Valorizando as coisas Simples da Vida

Vida Legionária

Estava ouvindo Legião Urbana hoje e lembrei de como fui conhecendo esta banda durante a minha vida…

A primeira vez que ouvi o nome “Legião Urbana” foi numa conversa entre adultos na rua, eles falavam de alguém que jogou o sapato no vocalista da banda…

– Cara, mas sério, ele pegou o sapato e jogou na cara do cantor da banda, eu vi, eu estava no mineirinho, foi na hora que Renato falou que a música era pro namorado dele.

– Você foi no show da Legião Urbana? que doido.

Sapato na cara, Renato, Legião Urbana, palavras novas pra mim.

Fiquei um tempão pensando neste lance do cara levar uma sapatada no palco. “Ele tinha um namorado” era o tema das nossas conversas…

– Como pode, ele tem uma voz tão bonita.

– Eu que não escuto esta banda.

– Meu pai falou que esse Russo é doidão, escuto não.

Pronto, já tinha decidido, queria saber desta banda não, povo doido…

As opiniões, comentários a respeito deste tal vocalista fizeram isto, eu gostava de música, mas não ouvia Legião…Foram anos sem ouvir, até que um dia…

Num belo lindo dia da minha adolescente vida, onde estava novamente triste, aquela depressão juvenil, onde vc vai descobrindo o mundo, o seu mundo, clareando e entendendo as diferenças, sua posição, andando pelo colégio, na maioria das vezes em silêncio, sem vontade de descer para o pátio na hora do recreio, vendo lá de cima a moçada normal, passeando em grupos, correndo pelo pátio, lanchando, brincando, foi quando eu ouvi uma turma numa conversa animada…

Cara, vai ser hoje, conseguimos, a direção deixou colocar música no som da escola durante o recreio, Fulano já foi pra lá, vai começar agora…

Onde eu estava havia uma dessas caixas de som, olhei pra ela, estava do meu lado direito, decidi ficar ali, de boa, enquanto esperava esta novidade, voltei para os meus conflitantes pensamentos, olhando para o pátio lotado de alegria e sorrisos, sem entender porque eu não estaria ali…tummm, xiiiiii…som…som…

Eu escutei um barulho de som na caixa, aquele chiado maravilhoso do vinil antes da música começar… e do nada começou! Uma viola seguida de uma frase “Quando o sol bater na janela da sua casa”.

A voz parecia um trovão me acordando, me tirando do mundo sombrio que construí, as frases entravam pelas veias do meu corpo, invadiam minha alma, costuraram o meu coração.

“lembra e ver… que o caminho é um só…”

Não estava mais ali no corredor do colégio, não estava mais na porta da minha sala de aula, olhando pra baixo eu não via mais ninguém. Eu sentia a música, entendia o recado, foi um susto…Uma emoção que só foi interrompida pela sirene alertando o fim do intervalo.

Não consegui estudar mais.

Queria ouvir aquela música de novo.

Não havia internet, spotfy, youtube, usb, pendrive, nada.

Para ouvir novamente a música, eu teria que ficar colado na rádio Transamérica o dia inteiro ou descobrir quem tinha o disco.

Fui pra casa cantando apenas o início da canção. “Quando o sol…”

Entrei no apartamento que morava com minha mãe e irmãs, fui para o quarto, troquei de roupa para almoçar, deitei um pouco na cama, pensando na música, quando ouvir uma bateria entrando certinho junto de outros instrumentos…”Quem me dera ao menos uma vez”… A mesma voz?

– Meire, que som é este?

– Fala gato, é Legião, disco dois, doido demais!

Nunca mais parei de ouvir Legião Urbana.

Comprei discos, gravei fitas, aprendi e comprei um violão só para tocar Legião, decorei Faroeste Caboclo detonando os locutores que falavam em cima das músicas, tudo mudou!

Legião foi minha vida, faz parte da minha estrada, uma estrada que custei a descobrir…

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